Ontem, segundo domingo de agosto foi um dia muito especial; mas, apesar de engrossar o cordão daqueles que não dão muita importância a essa data, porque ela foi criada para estimular a venda de presentes e tem um apelo nitidamente comercial; não posso como filho e principalmente como pai, renegar essa data a um segundo plano, até porque é necessário homenagear a todos nós que somos (ou ainda vamos ser) pais;
Por isso, quero como homenagem espacial aos pais presentes e ausentes quero tratar de um momento muito especial do Ministério de Jesus (apesar dessa afirmação ser até redundante!), onde o Filho de Deus encontra uma mulher Cananéia; e, esse encontro nos traz lições magistrais. Esse texto esta no capitulo 15 do Evangelho de Mateus (Mt 15,21-28).
Mateus ressalta a dificuldade que temos em ouvir um não; dificuldade que se torna ainda mais dolorida quando você tem absoluta certeza de que seu pedido é no mínimo justo. Porém, mais duro que ouvir um “não” é ser ignorada, e isto também aconteceu com a mulher Cananéia. E, porque estou falando isso? O texto de Mateus relata uma mulher Cananéia que ouviu um sonoro não; e o que é pior, foi um não carregado de bons argumentos.
E, diante dessa situação, sinto-me na obrigação de dizer que existem duas maneiras de reagir a um não: Você pode se resignar e aceitar a resposta negativa; ou você pode lutar por aquilo que você acredita, gritar e chamar a atenção para si. Essa última opção foi aquela usada pela Cananéia; a sua postura submissa , o seu jeito de se aproximar de Jesus, são somente partes de sua identidade; o seu pedido e a sua insistência desafiam a missão de Jesus, além de confrontar a ideologia dominante à época com a nova forma de ver e viver a fé que era trazida por Jesus. Aquela mulher simples exigiu que Jesus tornasse disponível para ela tudo aquilo que estava disponível para os filhos Israel.
Mas, diante desse desafio Jesus não responde com ajuda instantânea, mas sim com o Seu silêncio. Não é dado nenhum motivo, entretanto, os fatores étnicos, culturais, religiosos, econômicos e políticos daqueles dias sugerem várias razões para Jesus ignorá-la; tanto é que num segundo momento Jesus afirma: “Não é bom tirar o pão dos filhos e dá-los aos cachorrinhos” (Mt 15,26);
E, mesmo depois de ter recebido essa resposta negativa, sem se amedrontar, a mulher se ajoelha diante de Jesus e clama por socorro. Junto com a sua submissão ela pede novamente e continua audaciosamente, reclamando, em alto e bom som, o seu lugar nos propósitos de Deus. E o interessante é que a Cananéia não se ofendeu quando Jesus lhe chama de “cachorrinhos”; quantos achariam isso demais e teriam desistido; mas ela não desiste. Ela continua e se humilha aos pés do Senhor. Ela aceita ser tratada dessa forma.
Essa é uma lição para nós. Quantos se acham dignos de receber alguma coisa de Deus; acham que têm méritos próprios. Mas esse é um ledo engano. Nós, todos nós não merecemos nada do Senhor. O que Ele nos dá é por e com amor, pela sua graça e misericórdia. Foi assim que aconteceu com a Cananéia. Foi esse amor, graça e misericórdia que fez Jesus, admirado com a fé daquele mulher dizer: “Mulher, é grande a sua fé! Seja feito como você quer” (Mt 15,28).
Aqui se concentra a força desta história: A mulher Cananéia não é intimidada pela resposta de Jesus. Ao invés, ela, com astúcia e coragem reformula a resposta de Jesus e afirma: “Também os cachorrinhos comem das migalhas que caem das mesas dos seus donos” (Mt 15,27). Essa resposta dela se move além das barreiras da divisão étnica, cultural, religiosas, de gênero e política, para as possibilidades que permanecem firmes às promessas de Deus de abençoar todas as nações da terra.
E, esse episódio pode levar você a fazer o seguinte questionamento: Será que Deus sempre Se deixa achar por nós? Ou será que em alguns momentos Ele age como se fossemos a Cananéia? Pode não parecer, mas essas perguntas têm toda relação com uma proposta divina: “Vinde após Mim e farei de vós pescadores de homens” (Mc 1,17).
Até porque, eu não acredito que Jesus coloca limites na Sua atuação na nossa vida; na verdade, Ele nos deixa livres para que a decisão de segui-LO seja espontânea e venha do fundo do nosso coração, exatamente como aconteceu com a Cananéia. E, o Senhor faz isso, porque sabe que essa decisão implica em doação, comprometimento e um grande compromisso com Deus.
Vejo, por tudo que Deus fez, faz e certamente fará na nossa vida que estar disponível para que possamos buscá-LO é uma das qualidades inerentes de Deus; mas, essa busca tem que ser de dentro para fora; pois, é ela que nos irá fazer trazer pessoas para conhecer o estupendo amor de Deus. Foi isso que fez a Cananéia.
Então, faça como a Cananéia e deixe de se preocupar com a disponibilidade da agenda de Jesus; fique aos Seus pés; clame por Ele e você vai experimentar do nosso bom e terno Deus a Sua fidelidade, quando nos diz: “não fostes vós que me escolhestes, mas fui Eu que vos escolhi o vos designei para irdes e produzirdes fruto e para que o vosso fruto permaneça, a fim de que tudo que pedirdes ao Pai em meu nome Ele vos dê” (Jo 15,16).
Rev. Antonio Bastos
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