Diante do que vimos ontem na parte do Evangelho de Mateus (Mt 15,21-28) que é à base das nossas conversas diárias, uma pessoa que me é muito cara questionou a afirmação sobre o porque dessa afirmação de Jesus: “Não está certo tirar o pão dos filhos, e jogá-lo aos cachorrinhos” (Mt 15,24).
Acredito que Jesus disse essas palavras por saber que a Cananéia não seria intimidada pela Sua resposta dura e, até um pouco mal-educada de Jesus. Ao invés disso, a Cananéia, com astúcia e coragem a resposta de Jesus dizendo: “Sim, Senhor, é verdade; mas também os cachorrinhos comem as migalhas que caem da mesa de seus donos” (Mt 15,27).
Porém, devemos ter a consciência que essa resposta engenhosa e desafiante abre possibilidades para sua filha e para Jesus, que pode colocar em prática o amor de Deus e demonstrar com ações e reações que Deus é para todos e que Ele, e somente Ele, pode solucionar o problema que aflige àquela mulher e sua família; e, é isso que o Senhor Jesus faz, respondendo positivamente e realizando o desejo daquela mulher.
Diante de tudo isso, você pode pensar: “Jesus disse para a Cananéia que não iria lhe ajudaria porque ela não era judia. Então teria Jesus sido preconceituoso?”. Antes de responder, apresar de já saber a resposta, devemos analisar tudo que aconteceu, e vamos poder constatar juntos que foi exatamente o contrário: O Senhor começou falando aquilo que os judeus queriam ouvir, para depois mostrar que aquela pessoa, uma mulher e Cananéia, tinha uma fé maior que a de muitos deles.
O impacto das palavras da Cananéia foi enorme. Mas esse impacto foi realçado porque aquela Cananéia era uma mulher relevante, uma mulher que fez a diferença, como é o normal das mulheres. Então convido você a tomarmos aquela Cananéia como exemplo e imitarmos as suas ações e reações para nos tornarmos uma pessoa relevante para Deus:
A pessoa relevante é aquela que não duvida de Deus mesmo que todas as possibilidades pareçam contrárias. Lembre-se que naquela época a mulher era um ser humano de segunda, para não dizer de terceira classe na visão da sociedade judaica. Se não fosse judia, então, menos atenção lhe seria dada. Mas aquela mulher não duvida do amor de Deus, mesmo que tudo estivesse contra ela.
Outro ponto é que a pessoa relevante procura ajuda no lugar certo e com a pessoa certa: Jesus Cristo! A Cananéia foi procurar em Jesus a direção que precisava, foi procurar em Jesus o apoio necessário para resolver o seu problema. A Cananéia demonstrou com ações e reações que devemos buscar em Jesus as respostas e o consolo para as nossas aflições.
É por isso que a história que ouvimos traz a tona uma grande lição, a lição que Jesus concedeu aos seus discípulos: Não podemos nos enclausurar dentro de nossos conceitos e preconceitos, sem perceber a realidade ao nosso redor; mesmo que pareça incoerente, mesmo que incomode, mesmo que seja preciso mudar as regras... Então tenha em mente que toda regra tem que ter uma exceção para ser validada como regra.
Então, hoje, nesta terça-feira, tenha a certeza que Deus espera que você se sinta impelido a um engajamento amplo, total e irrestrito na realização da Sua obra no mundo, que tem por objetivo maior: Transformar corações e restaurar vidas. Porém, não podemos buscar a Deus como uma solução mágica para a crise existencial que paira sobre a humanidade; ou, estamos busca-LO como um “gênio da lâmpada” que pode transformar a nossa caminhada num mar de rosas e/ou num viver sem problemas, perseguições ou momentos conturbados; ou seja, será que estamos buscando um ser sobrenatural que nos concederá todos os desejos, além de nos livrar da ansiedade e do stress moderno?
Sinto em dizer que Deus, por tudo que Ele fez, faz e fará na nossa vida, não pode ser reduzido a tanto. Ele nos diz que é fácil chorar ou sorrir quando der vontade; o que é realmente difícil é poder sorrir com vontade de chorar; e, que não resta a menor dúvida que a maior ansiedade do ser humano são as respostas para as nossas questões mais íntimas, porém uma delas complementa uma pergunta: O que Deus planeja para a nossa vida?
Pois, devemos agir como a Cananéia, e sabendo exatamente o que estamos procurando, vamos no mínimo, ter a certeza que o Seu plano para a nossa vida é algo maravilhoso e engrandecedor. Além disso, outra certeza é que esse plano pode não ser o que queremos, mas certamente é o melhor para a nossa vida.
Essa realidade me conduz a uma constatação: ao procurar Deus e reconhecer, plenamente, que Jesus tem um escopo muito maior do que um mero “solucionador de problemas” ou de um extintor de incêndio – que somente funciona nas horas de crise; vamos poder desfrutar, verdadeiramente, das Suas promessas e viver a certeza de que Ele fez uma escolha por cada um de nós, e que essa escolha é um sinal do Seu infinito Amor.
Assim, ao procurarmos Deus, devemos procurar de todas as formas, tê-LO sempre ao nosso lado, compartilhando com Ele não somente as nossas dores, mas principalmente as nossas vitórias, pois sem esse exercício, que gera intimidade, vamos nos sentir alijados da Sua convivência e isso acarretará, invariavelmente, o nosso distanciamento da única coisa realmente necessária para a nossa vida: O Seu infinito amor.
Assim, devemos utilizar o exemplo de vida da Cananéia para confirmar a nossa própria missão de transformadores do mundo, e confiando na intercessão de Deus para levarmos a pleno cumprimento desta missão, por Ele outorgada; além da certeza de que ao Seu lado vamos poder dizer: “achamos o Messias! – o que significa o Cristo” (Jo 1,41) e que “Jesus Cristo é o mesmo ontem, e hoje, e eternamente” (Hb 13,8).
Rev. Antonio Bastos
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